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Lidar com a entrada e saída de colaboradores faz parte da rotina de qualquer empresa. No entanto, cada uma dessas etapas exige atenção a detalhes legais, prazos e obrigações trabalhistas. Um erro simples pode resultar em processos, multas e até desgastes com o time. Por isso, entender as principais regras de admissão e demissão é fundamental para manter a empresa em conformidade e garantir relações de trabalho justas e transparentes.

Neste artigo, você vai entender o que observar em cada etapa, quais os documentos obrigatórios, os prazos legais e como evitar problemas com a legislação trabalhista. Vamos lá?

Admissão: como contratar da forma certa?

Contratar um colaborador vai além da assinatura da carteira. A empresa precisa seguir um processo que envolve documentação, registros e comunicação com os órgãos responsáveis. Veja os pontos principais:

Definição do tipo de contrato

Antes de tudo, a empresa deve escolher o tipo de vínculo que será estabelecido. Os mais comuns são:

  • CLT (tempo indeterminado): é o modelo tradicional, com direitos como férias, 13º salário e FGTS.
  • Contrato por tempo determinado: usado para trabalhos temporários ou com prazo final previsto.
  • Contrato de experiência: geralmente com duração de até 90 dias, permite avaliar o desempenho do colaborador.
  • Contrato intermitente ou parcial: mais flexíveis, com pagamento proporcional às horas ou dias trabalhados.

A escolha do contrato influencia nos direitos e deveres de ambas as partes.

Documentação obrigatória

No momento da admissão, o RH ou o setor responsável deve solicitar:

  • Documento de identidade (RG e CPF)
  • Comprovante de residência
  • Título de eleitor
  • Carteira de trabalho (física ou digital)
  • Certificado de reservista (para homens)
  • Comprovante de escolaridade
  • Certidão de nascimento ou casamento (dependendo do estado civil)
  • Número do PIS/NIT
  • Atestado de saúde ocupacional (ASO)

Além disso, é necessário registrar o funcionário no eSocial antes do início das atividades.

Registro em carteira e eSocial

O colaborador precisa ser registrado até um dia antes de iniciar as atividades. A anotação deve incluir:

  • Cargo
  • Salário
  • Jornada de trabalho
  • Data de admissão
  • Tipo de contrato

Essas informações também são enviadas ao governo pelo eSocial, que integra obrigações trabalhistas, fiscais e previdenciárias.

Integração e boas práticas

Após a formalização, o novo colaborador deve ser integrado à equipe. Isso pode incluir:

  • Apresentação da empresa e seus valores
  • Explicação sobre políticas internas
  • Treinamentos específicos

Uma boa recepção ajuda a reduzir a rotatividade e aumenta a produtividade desde o início.

Demissão: como encerrar o vínculo sem complicações?

A demissão de um colaborador também exige atenção. Além da comunicação respeitosa, é preciso seguir regras legais e cumprir prazos para não correr riscos.

Tipos de demissão

Existem várias formas de encerramento do vínculo:

  • Demissão sem justa causa: a empresa opta por desligar o funcionário, sem um motivo legal específico.
  • Demissão com justa causa: ocorre quando o colaborador comete falta grave, como insubordinação, roubo ou abandono de emprego.
  • Pedido de demissão: o próprio colaborador decide deixar o emprego.
  • Acordo entre as partes: ambas concordam com o encerramento do contrato, com regras específicas para pagamento de verbas.
  • Término de contrato por prazo determinado: o contrato chega ao fim no prazo estipulado.

Cada modalidade tem consequências diferentes em relação às verbas rescisórias.

Aviso prévio

Na demissão sem justa causa, a empresa deve conceder aviso prévio de 30 dias, podendo ser:

  • Trabalhado: o colaborador continua suas funções por mais 30 dias.
  • Indenizado: a empresa opta por liberar o funcionário imediatamente e paga o valor correspondente.

Se o aviso partir do colaborador, as mesmas opções se aplicam, mas a escolha é da empresa.

Verbas rescisórias

As verbas a serem pagas variam de acordo com o tipo de demissão. No caso de demissão sem justa causa, por exemplo, os valores incluem:

  • Saldo de salário
  • Férias vencidas e proporcionais + 1/3
  • 13º salário proporcional
  • Multa de 40% sobre o FGTS
  • Liberação do FGTS
  • Guia para saque do seguro-desemprego (se aplicável)

Já na demissão com justa causa, o colaborador perde parte desses direitos, como a multa sobre o FGTS e o acesso ao seguro-desemprego.

Prazo para pagamento

Os valores da rescisão devem ser pagos em até:

  • 10 dias corridos após o término do contrato (independente do tipo de aviso prévio).

O descumprimento desse prazo gera multa prevista na CLT, paga ao trabalhador.

Exame demissional

Ao final do vínculo, o funcionário deve passar por um exame médico demissional, que ateste as condições de saúde no momento da saída.

O que a empresa precisa evitar?

Alguns erros comuns podem trazer grandes prejuízos, erros como:

  • Contratação sem registro: Funcionários informais são passíveis de multas e ações trabalhistas. Além disso, a ausência de recolhimento de INSS e FGTS pode gerar autuações.
  • Documentação incompleta: Faltas nos registros ou arquivos mal organizados dificultam a gestão e podem comprometer a defesa da empresa em eventuais processos.
  • Atraso no pagamento da rescisão: A empresa que não cumpre o prazo de 10 dias para quitar a rescisão deve pagar uma multa equivalente a um salário do colaborador.
  • Demissão sem orientação jurídica: Demissões por justa causa ou com conflitos devem ser avaliadas com cautela. Uma decisão precipitada pode resultar em processos trabalhistas e indenizações elevadas.

Como facilitar o processo?

Algumas práticas ajudam a tornar os processos de admissão e demissão mais eficientes e seguros:

  • Ter um setor de RH estruturado: Mesmo que o departamento seja pequeno, ele precisa conhecer a legislação e manter os processos organizados.
  • Utilizar sistemas digitais: Ferramentas de gestão de RH e contabilidade integrada ajudam a centralizar informações, evitar atrasos e gerar relatórios com agilidade.
  • Contar com apoio contábil: O contador tem papel fundamental na admissão e demissão. Ele orienta sobre os tributos, faz o envio ao eSocial e garante que a empresa esteja sempre regular.

Conclusão

A admissão e a demissão fazem parte do ciclo natural de qualquer empresa. Porém, quando mal conduzidas, essas etapas podem gerar sérias consequências legais e financeiras.

Ao seguir as regras com atenção, registrar corretamente os colaboradores e pagar os direitos dentro do prazo, a empresa demonstra respeito, fortalece sua imagem e evita complicações trabalhistas.

Se sua empresa ainda não possui processos claros para entrada e saída de funcionários, o momento ideal para se organizar é agora. Afinal, manter a conformidade legal também é sinal de profissionalismo e responsabilidade.